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A nau dos incoerentes
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A nau dos incoerentes
Embora o tema á seguir, seja relacionado á nossa política paranaense, pode servir de exemplo em todos os municípios brasileiros nas próximas eleições.
Publicado em 01/07/2012 | pelo colunista Celso Nascimento:
O deputado Rubens Bueno (PPS), escolhido para ser o vice na chapa de Luciano Ducci, foi escalado para cumprir a missão que os marqueteiros da campanha de reeleição do prefeito consideram chave para levar ao naufrágio a candidatura de Gustavo Fruet, seu principal adversário. A ideia é explorar à exaustão o mote da coerência, qualidade que, segundo eles, Fruet perdeu ao se aliar ao PT, partido que combateu quando deputado federal do PSDB.
De fato, o argumento é muito bom – e seria melhor ainda se pudesse ser aplicado exclusivamente a Fruet. Entretanto, é aplicável a praticamente todos os políticos brasileiros da atualidade. O que inclui o autor da seguinte frase: “Me sinto realizado por essa união e pela coerência que sempre marcou a nossa caminhada na vida pública. Jamais vamos violentar a nossa consciência para vencer uma eleição a qualquer custo. A nossa alma não está à venda e não compramos a alma de ninguém para vencer uma eleição.”
A frase é do governador Beto Richa e foi pronunciada durante ato realizado na última quinta-feira quando do anúncio oficial de Rubens Bueno como vice de Ducci num salão do hotel Bourbon em que se destacava a faixa com a palavra coerência em letras garrafais.
Trata-se de uma afirmação que a psicologia social poderia enquadrar no conceito de “dissonância cognitiva”. Em tradução livre, essa teoria é descrita como a “capacidade do ser humano de contrariar a lógica, negar evidências, criar falsas memórias, distorcer percepções, ignorar fatos e até mesmo desencadear uma perda de contato com a realidade”. A contradição entre o que se fala e o que se faz também é sintoma do mal da dissonância cognitiva.
Agora, combine tal conceito com os inúmeros sinônimos da palavra ‘coerência’, tais como harmonia, nexo, concordância, afinidade... Entre os sinônimos de coerência não cabe a palavra contradição.
Fica?
Examinado o prontuário político do governador, constata-se que sua coerência partidária variou conforme as circunstâncias: foi suplente de vereador de Curitiba pelo PSDB em 1992; deputado estadual duas vezes, a primeira pelo PSDB (1994) e a segunda pelo PTB (1998); depois, filiado ao PFL, foi vice de Cassio Taniguchi em 2000. Rompeu com Cassio em meio a acusações de improbidade, voltou para o PSDB e foi eleito duas vezes prefeito (2004 e 2008). Antes da segunda eleição, assinou em cartório o compromisso de ficar na prefeitura pelos quatro anos seguintes. Incoerentemente, 14 meses depois abandonou o cargo para concorrer ao governo em 2010.
Ganhou a eleição de governador fazendo oposição ao antecessor Roberto Requião, do PMDB, fato que não o impediu de firmar acordos com uma ala do mesmo PMDB garantido-lhe uma vaga no secretariado. No caso, para o deputado Luiz Cláudio Romanelli, até então líder de Requião na Assembleia. O acordo com o DEM (o seu ex-PFL) também teve um preço: a nomeação do antigo desafeto Cassio Taniguchi, recém-saído da equipe do cassado governador do Distrito Federal, o demo José Roberto Arruda.
As contradições de Richa não servem, lógico, para tornar justificável a incoerência de Gustavo Fruet, o alvo da campanha da “coerência” da qual foi encarregado Rubens Bueno. Não justificam, mas explicam um bocado: Fruet era do PSDB, partido de Richa e candidato natural da sigla à prefeitura em 2012, mas o governador fez o necessário para afastá-lo da legenda com o objetivo de apoiar Luciano Ducci, do PSB, partido aliado do PT no plano federal. Outra incoerência.
Os exemplos dessa espécie na política nacional já não surpreendem tanto – salvo pela fotografia do abraço de Lula com Maluf, que escandalizou o Brasil dia desses. Lula buscou o apoio do PP malufista para o candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. No Paraná, Richa sepultou a candidatura tucana em Londrina para apoiar o candidato Marcelo Belinati, do PP malufista.
Enfim, neste país de partidos sem programas ou ideologias, em que o proveito político e pessoal está acima de qualquer outro princípio, acaba prevalecendo o vale-tudo. E, então, o discurso da incoerência é como remédio barato – genérico.
Memória
Em outubro de 2011, o deputado Rubens Bueno condenava a incoerência de Beto Richa o que, sem dúvida, lhe dá autoridade para desenvolver o tema na campanha. Dizia ele: “Passamos o tempo criticando o governo do PMDB, ganhamos a eleição em cima dessas críticas e depois sem mais e nem menos trouxeram eles para dentro do governo. Essa é uma forma de fazer política que não aceitamos, não tem ideologia nenhuma e não contribui em nada. A presença do PMDB no governo nivela a discussão por baixo”.
Em março de 2011, quando Fruet já cogitava sair do PSDB, Bueno queria atraí-lo para o PPS dando-lhe a legenda para ser candidato a prefeito. “Se ele vier terá todas as garantias que precisa. Nós não oferecemos meio apoio a ninguém. E ninguém vai fazer molecagem para não deixá-lo ser candidato”, disse Rubens Bueno.
Publicado em 01/07/2012 | pelo colunista Celso Nascimento:
O deputado Rubens Bueno (PPS), escolhido para ser o vice na chapa de Luciano Ducci, foi escalado para cumprir a missão que os marqueteiros da campanha de reeleição do prefeito consideram chave para levar ao naufrágio a candidatura de Gustavo Fruet, seu principal adversário. A ideia é explorar à exaustão o mote da coerência, qualidade que, segundo eles, Fruet perdeu ao se aliar ao PT, partido que combateu quando deputado federal do PSDB.
De fato, o argumento é muito bom – e seria melhor ainda se pudesse ser aplicado exclusivamente a Fruet. Entretanto, é aplicável a praticamente todos os políticos brasileiros da atualidade. O que inclui o autor da seguinte frase: “Me sinto realizado por essa união e pela coerência que sempre marcou a nossa caminhada na vida pública. Jamais vamos violentar a nossa consciência para vencer uma eleição a qualquer custo. A nossa alma não está à venda e não compramos a alma de ninguém para vencer uma eleição.”
A frase é do governador Beto Richa e foi pronunciada durante ato realizado na última quinta-feira quando do anúncio oficial de Rubens Bueno como vice de Ducci num salão do hotel Bourbon em que se destacava a faixa com a palavra coerência em letras garrafais.
Trata-se de uma afirmação que a psicologia social poderia enquadrar no conceito de “dissonância cognitiva”. Em tradução livre, essa teoria é descrita como a “capacidade do ser humano de contrariar a lógica, negar evidências, criar falsas memórias, distorcer percepções, ignorar fatos e até mesmo desencadear uma perda de contato com a realidade”. A contradição entre o que se fala e o que se faz também é sintoma do mal da dissonância cognitiva.
Agora, combine tal conceito com os inúmeros sinônimos da palavra ‘coerência’, tais como harmonia, nexo, concordância, afinidade... Entre os sinônimos de coerência não cabe a palavra contradição.
Fica?
Examinado o prontuário político do governador, constata-se que sua coerência partidária variou conforme as circunstâncias: foi suplente de vereador de Curitiba pelo PSDB em 1992; deputado estadual duas vezes, a primeira pelo PSDB (1994) e a segunda pelo PTB (1998); depois, filiado ao PFL, foi vice de Cassio Taniguchi em 2000. Rompeu com Cassio em meio a acusações de improbidade, voltou para o PSDB e foi eleito duas vezes prefeito (2004 e 2008). Antes da segunda eleição, assinou em cartório o compromisso de ficar na prefeitura pelos quatro anos seguintes. Incoerentemente, 14 meses depois abandonou o cargo para concorrer ao governo em 2010.
Ganhou a eleição de governador fazendo oposição ao antecessor Roberto Requião, do PMDB, fato que não o impediu de firmar acordos com uma ala do mesmo PMDB garantido-lhe uma vaga no secretariado. No caso, para o deputado Luiz Cláudio Romanelli, até então líder de Requião na Assembleia. O acordo com o DEM (o seu ex-PFL) também teve um preço: a nomeação do antigo desafeto Cassio Taniguchi, recém-saído da equipe do cassado governador do Distrito Federal, o demo José Roberto Arruda.
As contradições de Richa não servem, lógico, para tornar justificável a incoerência de Gustavo Fruet, o alvo da campanha da “coerência” da qual foi encarregado Rubens Bueno. Não justificam, mas explicam um bocado: Fruet era do PSDB, partido de Richa e candidato natural da sigla à prefeitura em 2012, mas o governador fez o necessário para afastá-lo da legenda com o objetivo de apoiar Luciano Ducci, do PSB, partido aliado do PT no plano federal. Outra incoerência.
Os exemplos dessa espécie na política nacional já não surpreendem tanto – salvo pela fotografia do abraço de Lula com Maluf, que escandalizou o Brasil dia desses. Lula buscou o apoio do PP malufista para o candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. No Paraná, Richa sepultou a candidatura tucana em Londrina para apoiar o candidato Marcelo Belinati, do PP malufista.
Enfim, neste país de partidos sem programas ou ideologias, em que o proveito político e pessoal está acima de qualquer outro princípio, acaba prevalecendo o vale-tudo. E, então, o discurso da incoerência é como remédio barato – genérico.
Memória
Em outubro de 2011, o deputado Rubens Bueno condenava a incoerência de Beto Richa o que, sem dúvida, lhe dá autoridade para desenvolver o tema na campanha. Dizia ele: “Passamos o tempo criticando o governo do PMDB, ganhamos a eleição em cima dessas críticas e depois sem mais e nem menos trouxeram eles para dentro do governo. Essa é uma forma de fazer política que não aceitamos, não tem ideologia nenhuma e não contribui em nada. A presença do PMDB no governo nivela a discussão por baixo”.
Em março de 2011, quando Fruet já cogitava sair do PSDB, Bueno queria atraí-lo para o PPS dando-lhe a legenda para ser candidato a prefeito. “Se ele vier terá todas as garantias que precisa. Nós não oferecemos meio apoio a ninguém. E ninguém vai fazer molecagem para não deixá-lo ser candidato”, disse Rubens Bueno.
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